segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Como a Educação Física contribui para a sociedade?

Quando se diz que a Educação Física é um fenômeno cultural, não se quer dizer que os dados biológicos não estão presentes ou não são importantes, mas que estes últimos não são suficientes para a compreensão, por exemplo, do esporte. Os europeus do Renascimento ou os indígenas brasileiros à mesma época não jogavam basquetebol ou futebol, embora do ponto de vista fisiológico-mecânico possuíssem o potencial para fazê-lo. É claro que jogos com bola, atendendo ao impulso lúdico que está na origem da própria cultura humana (HUIZINGA, 1980) são registros bastante antigos na história, mas apenas em contextos socioculturais específicos é que surgiram o basquetebol e o futebol tal como os conhecemos hoje. O surgimento e ascensão do esporte como um importante fenômeno sociocultural pode ser explicado pelos predicados intrínsecos (lúdicos e agonísticos) presentes nas diversas modalidades esportivas, aliados ao contexto de liberalismo e industrialização da Europa no século XIX, daí espalhando-se para todo o mundo.


 Mas o que é cultura? Temos dificuldade em compreender nossa própria cultura, porque estamos nela imersos, ela nos aparece como um dado evidente, sobre o qual não nos debruçamos a todo momento para uma análise sistemática.
    DaMatta (1978) considera que, ao estudar uma dada cultura, um antropólogo deve realizar um duplo movimento: transformar o estranho em familiar, e, ao mesmo tempo, o familiar em estranho. O primeiro é o movimento original da Antropologia, ao final do século XIX, quando buscava compreender culturas nativas. O segundo corresponde ao momento presente da Antropologia, que se volta para a nossa própria sociedade, e então temos que estranhar o que nos é familiar.
    Lembra Dartigues (1973) que Husserl (1859-1938), considerado o “pai” da fenomenologia moderna, agradeceu aos antropólogos do seu tempo, já que concebia a descoberta da essência dos fenômenos sociais e culturais como decorrentes de uma compreensão prévia, logo, de um conhecimento, pelo sociólogo/historiador, de culturas diferentes da sua – e os antropólogos penetraram em universos culturais inteiramente estranhos ao homem europeu, os quais não poderiam ter concebido, nem mesmo como pura possibilidade, se não tivessem ido investigar in loco.


    Uma boa e didática ilustração do que poderia ser esse processo de estranhamento, e que apresenta interesse para a Educação Física, é a matéria jornalística exibida na televisão (matéria exibida no "Globo Repórter", produzido pela TV Globo, em 9 de junho de 1999) sobre alguns aspectos da cultura da Mongólia, país encravado na Ásia, entre a Rússia e a China. Naquele país realiza-se anualmente, conforme a referida matéria, há quase oito séculos, um “festival de esportes”, que inclui as modalidades: arco e flecha, corrida de cavalo e luta. Na corrida, o percurso totaliza 56 quilômetros, tendo como cavaleiros meninos de 4 a 12 anos; exaustos, alguns cavalos morrem de cansaço, literalmente. É o animal vitorioso, e não o cavaleiro, quem recebe as honras. Na competição de luta, mais de 500 concorrentes se enfrentam sucessivamente, sem divisão de categorias por peso e sem limite de tempo (algumas lutas chegam a durar duas horas), até que apenas um deles permaneça em pé – o vencedor é aclamado como herói. Tais fatos podem chocar defensores dos direitos dos animais, médicos, pedagogos e/ou profissionais da Educação Física, porque confrontam valores estabelecidos (mesmo que provisoriamente) em nossa cultura – tanto a cultura no sentido mais amplo (a cultura ocidental, por exemplo), como em sentido mais específico (a cultura profissional-pedagógica da Educação Física, por exemplo). Todavia, se tomarmos a corrida de cavalos como exemplo, é preciso considerar que saber cavalgar, num país em que a maioria da população possui hábitos nômades, e onde há mais equinos que seres humanos, é habilidade altamente valorizada, inclusive para crianças.

Fonte: EFDEPORTES

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